
Mais do que um novo governo uma nova oposição. A abstenção de 53,24%
Pela primeira vez na história das eleições regionais a abstenção ultrapassou 50% dos incritos. Relativamente a 2004 houve menos 15mil votantes (105.567 contra 90.221) e mesmo se considerarmos que, em 2004, houve um situação especial com um acesso às urnas por causa do efeito da coligação PSD/A+CDS/PP/A, sempre se pode verificar que, relativamente, a 2000 há uma descida de 9 mil votos (99.527 contra 90.221). Assim algo aconteceu.
A não transferência clara de votos do PS/A para a oposição.
Se olharmos os resultados, verificamos que a descida na votação do PS/A em todas as ilhas é praticamente idêntica ao número do aumento dos abstencionistas (15.063 no primeiro caso e 15.346 no segundo).
Poder-se-á dizer que isso não é tão linear porque pode ter havido um cruzamento de votos para os restantes partidos e uma taxa de abstenção nos eleitores do PSD/A. Também pode ser verdadeiro, mas não em percentagens assinaláveis. Por exemplo, vejamos que nestas eleições a soma dos votos de PSD/A e de CDS/PP/A (35.162) é menor em 3.720 votos que o resultado da coligação dos dois partidos em 2004 (38.882).
São precisamente parte desses 3720 votos que podem justificar o diferencial de subida dos partidos como o BE/A (2.976), o MPT/A (684), o PDA/A (619) e o PPM/A (424), em relação a 2004. Partidos que, se sublinha, foram os únicos a subir a respectiva votação. Assim, se somarmos os resultados daquelas 4 forças em 2008 (2.791) e compararmos com a soma dos resultados de 2004 (1.912), verifica-se que a diferença é de +2.791 votos. A este número junta-se o do aumento dos votos em branco de 881 em 2004 para 1.695 (+814).
Posso estar errado, mas o povo açoriano apenas parece querer uma nova oposição. Culpa da falta de Oxigénio. Só pode! Vamos à política.
Nem tudo são rosas?
Carlos César é o vencedor da noite. Foi o PS/A quem teve o maior de número de votos e de mandatos, alcançando a 3.ª maioria absoluta consecutiva e a possibuilidade de formar o seu 4.º governo regional. O PS/A ganhou, em todas as ilhas, pela primeira vez, em 32 anos de autonomia, e, localmente, apenas perdeu no concelho das Lajes das Flores. Esmagador?
No PS/A nunca houve um resultado assim, mas Carlos César precisa meditar na causa e nas responsabilidades para 15.000 dos seus votantes terem ficado em casa. Carlos César precisa olhar para real o impacto que a abstenção teve nas quedas percentuais sofridas no Corvo (-18%) Santa Maria(-17%), Flores (-15%) e Terceira (-12%).
É expectável, com uma disposição parlamentar de 30 contra 27 da oposição, em que se encontram os campeões do bota-abaixo do BE/A, do PCP/A e do PPM/A, que a liderança da Assembleia e a direcção da bancada parlamentar do PS/A mereçam um redobrado olhar de cuidado. Ou o PS/A pode anunciar novas ambições e nada mudar, ou mudar para que tudo fique na mesma? Desta vez foram 15mil que ficaram em casa. Imaginem se daqui a 4 anos sairem de casa para votar noutro partido...
Foi José Contente quem liderou a campanha do PS/A, em Ponta Delgada, enquanto Carlos César fazia campanha nas outras ilhas. Os 20% de diferença em relação a Berta Cabral, podem mostrar que PS/A parece ter, finalmente, ganho uma candidatura credível à Câmara de Ponta Delgada.Pior era impossível. O PSD/A, de derrota em derrota até ao juízo final?
Pouco mais haverá a dizer sobre o descalabro eleitoral do PSD/A. Não só sai derrotado em todas as ilhas, como sofre humilhantes derrotas no Corvo, nas Velas de São Jorge, em São Roque do Pico (com Duarte Freitas à cabeça), em Angra do Heroísmo e em quase todos os concelhos de São Miguel, em especial para Ponta Delgada (com Berta Cabral à cabeça).
Com a demissão de Costa Neves (prometendo ir fazer greve de zelo no parlamento), o que esperar de um PSD/A com três actos eleitorais em 2009? Que Berta cabral volte atrás e se afirme como candidata à liderança do partido desgastando-se entre a oposição e a câmara até 2012 mas podendo evitar a perda da maioria das autarquias para o PS/A? O avanço de figuras menores, e já com muitas derrotas, como Duarte Freitas ou José Manuel Boleiro, para líderes de transição até 2010, com o perigo de erodir ainda mais a base eleitoral do PSD/A, até ao regresso de Vitor Cruz? Certezas: não se espera PSD/A no parlamento nos próximos 2 anos.Valeu tudo, mesmo assim, parabéns a "Artur Paulo Lima Portas".
Eis senão quando, o CDS/PP/A garante pela primeira vez 5 deputados, curiosamente 4 deles sem precisar de círculo de compensação, reavivando bases eleitorais em São Jorge e nas Flores e não deixando cair a representação de São Miguel (apesar de ter perdido 2mil votos em relação a 2000). É sinal de trabalho e a retribuição para a mais eficaz mensagem que foi sendo mobilizada nos últimos 4anos. Goste-se ou não de "Artur Paulo Lima Portas", a verdade é que em 4 anos de "oposição trabalhadora" a ideia vingou junto das pessoas que queriam uma oposição que trabalhasse. Foi um político audaz e a sorte protegeu-o, pois os seus resultados também são devidos à abstenção. Lembro que o CDS/PP/A teve 7.853 votos mas desceu em relação a 2000 (9.515) e a 1996 (8.307). Num cenário de bipolarização o CDS/PP/A dificilmente segurará tantos mandatos. Para isso terá de trabalhar muito no terreno nos próximos 4 anos, a questão que fica é se manterá o registo contra o PSD/A ou se virará contra o PS/A acabando com as parcerias construtivas? Renato Moura e Nuno Barata aguentarão + 4 anos de exílio?

À terceira foi de vez.
E com +1957 votos do que em 2004 (1019) se faz um grupo parlamentar com 2 deputados e, certamente, + 2 adjuntos. 2976 votos podem parecer pouco, mas para quem não tem um programa eleitoral bem definido...Do BE/A não se espera muito mais que ruído, mas gostei de José Cascalho nas autárquicas de 2005 para a Câmara de Angra, pode ser que não replique o BE nacional. Surpreendam-me!CDU, quando a hemorragia continua.
Aníbal Pires não quer crer mas os resultados são-lhe adversos. Apesar da representação parlamentar (1 mandato graças ao círculo de compensação que não trouxe mais do que DecMota conseguiria em 2004 se a lei eleitoral já vigorasse) a CDU/A desce nos resultados, não conseguindo estancar o eleitorado tradicional do Faial e das Flores. 2.831 votos são francamente poucos para quem mobilizou à sua volta todos os sindicalistas militantes da Região. Para piorar o cenário o BE/A tornou-se a 4.ª força partidária na Região. Para a CDU/A o futuro não vai com pensos rápidos.Antes só que mal acompanhado.
O eleitorado do Corvo credibilizou Paulo Estevão quando poucos mais na Região o fizeram (última força partidária com 424 votos, só + 150 votos do que em 2004). Faça-o por merecer. Do mal o menos, teremos finalmente uma delegação da ALRAA no Corvo, e ainda bem!Político por 30 dias.
Manuel Moniz, com 684 votos, subiu 230 em relação a 2004. Hoje, anunciou a suspensão das suas funções políticas, e ainda bem. Daqui a 4 anos o MPT/A poderá chegar ao parlamento com 800 votos rezando para que a abstenção já esteja nos 60%. É tudo uma questão de fé...Descompensados.
António Ventura com 619 votos subiu 350 em relação a 2004. Para este PDA não há compensação possível. Espera-se o Fim, ou o princípio de algo realmente novo na política açoriana. Paulo Gusmão e Nuno Barata poderão ter uma palavra a dizer. Há entre 15 a 20mil votantes por convencer. Muito dependerá da evolução da liderança no PSD/A.
Nota Final 1. Se não houvessem substituições e a tomada de posse fosse hoje teríamos 9 mulheres no parlamento (6 PS, 2 PSD e 1 BE), num total de 57 mandatos. É triste! Também não querem olhar para a taxa de abstenção feminina?
Nota Final 2. Ainda alguém tem dúvidas sobre a isenção e democraticidade do círculo regional de compensação? Há muita falta de memória...
Nota final 3. Hoje começa o ano da dança das cadeiras. Vai ser um tal dançar até Novembro de 2009 querem apostar?
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[Adenda, 21.10.08]
Nota Final 4. Ninguém reparou que dois dos melhores resultados da noite eleitoral foram protagonizados por independentes? O deputado do CDS/PP nas Flores e a Deputada do PSD/A em Santa Maria.
Nota Final 5. Ninguém considera os resultados eleitorais uma derrota do discurso bairrista militante no PSD/A da Terceira e do Faial?
Nota Final 6. Ninguém considera que o estes resultados revelam que a oposição não se faz em artigos de jornais mas na rua e na Assembleia Legislativa?