terça-feira, março 29

CHÁ QUENTE #424

"... enjoy all that while you can, Portugal. Because reality will be waiting to intrude again when all the fun dies down." Da Irlanda, com amor.

segunda-feira, março 28

PURO PRAZER #328


"O inferno é fazer o que não se gosta! É ter de fazer o que não se gosta!"

In Uncle Yanko, de Agnès Varda, com especial agradecimento à Associação Cultural Burra de Milho e ao 9500 Cineclube Ponta Delgada

terça-feira, março 15

É d'HOMEM #131

E agora? Ao invés do que parece, tudo ainda pode acontecer. Porque os Partidos da Oposição - todos - não querem ir para o Governo, nem assumir responsabilidades, numa situação que não é agradável para ninguém. O Presidente da República, perante o impasse criado, vai dissolver o Parlamento e provocar eleições? Para cairmos, no pior momento, numa campanha eleitoral, como a última presidencial, com as culpas atiradas uns aos outros, sem tratarmos dos problemas nacionais? E para quê? Para chegarmos, talvez, a resultados, mais ou menos, idênticos? Mas se o não fizer, deixa que o Governo - e o PS, o que é mais grave - fiquem a fritar em lume brando? Com que vantagem para o futuro?

In Triste Europa, Mário Soares

sexta-feira, março 4

PURO PRAZER #327 (III)

"- Muitas vezes os seres são claros e translúcidos por serem primários e à medida que vão evoluindo é que se vão tornando opacos. Pensemos. Talvez seja isto: à medida que mais evoluindo vamos é que vão sendo precisos olhos mais penetrantes para se poder distinguir a qualidade de um ser. Então não será só à luz do sol que se deverá considerar a limpidez ou a translucidez do corpo de um ser mas à luz de outros princípios luminosos.
- Não compreendo.
- Pois não. Aqui a razão precisava de ter evoluído paralelamente aos olhos, ora os nossos olhos vão de encontro aos seres como de encontro a um muro."

In O Mestre, Ana Hatherly. 5.ª Edição, Babel/Ulisseia, 2010

quarta-feira, março 2

PURO PRAZER #327 (II)

"O Mestre chega à aula irritadíssimo e grita para os discípulos:
- Vocês são todos ignorantes!
- Sim, Mestre!
- Vocês não sabem absolutamente nada nem nunca hão-de saber coisa nenhuma!
- Pois não, Mestre!
- Mas que raio andam vocês aqui a fazer?
- Não sabemos, Mestre! Nós não sabemos nada e por isso é que estamos aqui, para aprender, consigo ...
- Mas o que é que vocês querem aprender, seus raça de prognatas?
- Então o Senhor não é Mestre? Se o Senhor é Mestre o Senhor deve ser sábio e Sofo, portanto nós estamos aqui para aprender tudo consigo...
- Atrevidos! Insurrectos! Eu não sou omnisciente nem omnipotente nem bruxo nem o Sócrates, eu sou um homem, apenas um homem, percebem? Eu sou um honesto funcionário, estou aqui para ganhar o meu ordenado, que é miserável, considerando os descontos que me fazem, eu estou aqui a cumprir o meu dever que é ennsinar-vos tudo o que está escrito, instruir-vos, modelar-vos, sei lá, estou aqui a desempenhar um papel político, religioso, sagrado, utilitário, filantrópico, sei lá, estou aqui a desempenhar o meu papel e vocês o que têm a fazer é desempenhar o vosso, pronto!
- Sim, Mestre, mas qual é o nosso papel?
- Grandes incompetentes! O vosso papel é serem alunos, é aprenderem muito bem o que o Mestre ensina, o que está escrito, que por sua vez ele já aprendeu dos seus Mestres e assim sucessivamente até Adão engasgado com a primeira golfada de sabedoria, percebem? O que vocês devem é aprender!
- Sim, Mestre, aprender o quê?
- Oh santa paciência infinita, vocês são todos uns ignorantes, já disse, o que vocês precisam é aprender o que está escrito! Não têm que pensar, é só aprender!
- Sim, Mestre, aprender o quê?
- Sim, Mestre, aprender com quem?
- Sim, Mestre, aprender com quem o quê?
- Sim, Mestre, aprender com quem o quê para quê?
- Então o Senhor não disse que aprender dura já há tanto tempo e estamos sempre ignorantes?
- Aprendam o que está escrito, está tudo escrito!
- Mas Mestre, o que nós queremos é cantar, é ver as plantas crescer, as ondas quebrar, as estrelas acender, as nuvens passar, a gente o que quer é sentir os lábios da pessoa amada poisarem no nosso rosto, a gente o que quer é sentir o calor do sol, o fresco da noite, a voz da pessoa amada tinindo nos nossos ouvidos, a ponta dos seus dedos brincando com os nossos cabelos, a gente o que quer é correr à beira do mar, dançar de alegria, comer fruta das árvores, dormir de cansaço, acordar sorrindo, erguer os olhos para dentro e ter alguém a quem amar, algo a louvar, algo a agradecer, algo a dar, alguém a quem a gente se dar!...
- Idiotas! Nem a caixeiros de sapataria haveis de chegar! Haveis de ser uns desgraçados que nem sequer no dia do vosso enterro vestireis um fato novo!"

In O Mestre, Ana Hatherly. 5.ª Edição, Babel/Ulisseia, 2010