segunda-feira, fevereiro 28

PURO PRAZER #327 (I)

"Porque haveriam as pessoas de acreditar na mentira se não acreditam na verdade? pergunta a Discípula.
- A mentira não é o oposto da verdade, é apenas uma sua deformação, diz o Mestre.
- Mas como se distingue uma do outra? insiste a Discípula.
- Não se distingue, diz o outro Mestre.
- Então é porque a mentira não é o oposto da verdade! diz a Discípula.
- Pois não, e é por isso que pode funcionar em lugar dela, diz o Mestre.
- Isso quer dizer que a verdade não tem oposto?, persiste a Discípula.
- Não é bem assim, diz o outro Mestre.
- Então como é? Qual é o oposto da verdade? Que perguntas embaraçosas fazem os discípulos!
Os Mestres disfarçam rindo e com um ar benévolo, complacente, batem nos ombros dos discípulos e dizem:
- Mais tarde, quando fordes Mestres, sabereis!"

In O Mestre, Ana Hatherly. 5.ª Edição, Babel/Ulisseia, 2010

sábado, fevereiro 26

PURO PRAZER #326

Nasceu em 1971, na Figueira da Foz e estudou nas Belas Artes de Lisboa, no Instituto Superior de Artes Plásticas da Madeira e na António Arroio. É escritor, músico, cineasta e ilustrador.
Escreveu cinco livros: A Carne de Deus (Bertrand), Enciclopédia da Estória Universal (Quetzal - Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco 2010), Os Livros Que Devoraram o Meu Pai (Caminho - Prémio Literário Maria Rosa Colaço 2009), A Contradição Humana (Caminho - Prémio Autores 2011 SPA/RTP) e A Boneca de Kokoschka (Quetzal).

"Tenho 72 anos. Olho para os meus filhos e para os meus netos e penso em que diabo de histórias se meterão eles e o que é que eles poderão um dia contar. Porque um homem é feito dessas histórias, não é de adê-énes e músculos e ossos. Histórias."
In Os Livros Que Devoraram o Meu Pai, Ed. Caminho, 2010.

"Uma das coisas mais espantosas é a quantidade de açúcar que a dona Assunção (vive no sexto, por baixo do pianista) põe no café. Quando ouve as músicas tristes do vizinho de cima, põe-se a gritar e a bater com a vassoura no tecto. Quando se consegue acalmar, senta-se na salinha, põe uma toalhinha de rendas na mesinha e deita um açucareiro no café. Apesar de comer tanto açúcar, é uma pessoa AMARGA. A minha mãe diz que o que lhe falta é chá."
In A Contradição Humana, Ed. Caminho, 2010.

quarta-feira, fevereiro 16

PURO PRAZER #325

Ele: A beleza de uma mulher não lhe pertence em exclusivo, faz parte da magnanimidade que ela traz ao mundo. Tem o dever de a partilhar.
Ela: E se já a tiver partilhado?
Ele: Então deve partilhá-la mais vezes.

sexta-feira, fevereiro 11

CHÁ DAS CINCO #281

Baby steps: Depois da Câmara de Lisboa, a da Covilhã aprovou na quinta-feira, por unanimidade, a extinção das quatro freguesias urbanas da cidade e a criação de uma única.