sábado, dezembro 30

PURO PRAZER #265


“…Nunca ninguém teve dúvidas que a verdade e a política estão em bastante más relações, e ninguém, tanto quanto se saiba, contou alguma vez a boa-fé no número das virtudes políticas. As mentiras foram sempre consideradas como instrumentos necessários e legítimos, não apenas na profissão de político e demagogo, mas também na de homem de Estado. Porque será assim? E o que é que isso significa no que se refere à natureza e à dignidade do domínio político, por um lado, e dignidade da verdade e da boa-fé, por outro? Será da própria essência da verdade ser impotente e da própria essência do poder enganar? E que espécie de realidade possui a verdade se não tem poder no domínio público, o qual, mais do que qualquer outra esfera da vida humana, garante a realidade da existência aos homens que nascem e morrem – quer dizer, seres que sabem que surgiram do não-ser e que voltarão para aí depois de um breve momento? Finalmente, a verdade impotente não será tão desprezível como o poder despreocupado com a verdade?...”

Verdade e Política, Hannah Arendt. in Entre o Passado e o Futuro – Oito exercícios sobre o pensamento político. Ed. Relógio D’Água, 2006

1 comentário:

Anónimo disse...

A verdade...a verdade!!!

Beijosss!!!