Jean-Marie Colombani
Director do «Le Monde»
O futuro é a Internet
(Excertos da entrevista o Expresso - Revista Actual)
Expresso - A imprensa está em vias de extinção?
JMC -Não é uma coisa do passado mas vai ter de aprender a viajar de diferentes maneiras. Aliás, já começa a aprender: tivemos o suporte de papel, amanhã o suporte – ecrã ou o suporte-papel, mas sob a forma de fotocópia em casa de cada um. Haverá várias maneiras de fazer viajar a informação.
(…)
E. - Como se concilia a necessidade de exigência com a precaridade crescente e a lógica do lucro das empresas, que conduz ao abaixamento da qualidade?
JMC - (…) O problema da precaridade é (…) um movimento geral da economia e não exclusivamente da imprensa, um fenómeno geral, mais vincado nuns sectores que noutros. Claro que não se fazem jornais de qualidade dessa maneira. Esses fazem-se com jornalistas que conhecem as suas áreas, com um certo grau de tempo de experiência, que progridem, porque adquirem um conhecimento e um talento que se vai forjando com o tempo.
(…)
E.- Há défice de crítica nos jornais?
JMC - Há um défice de autocrítica, de autocontrolo e de humildade, sobretudo. As derrapagens acontecem quando os jornalistas deixam de ser modestos face aos factos. Ora, os jornalistas existem para expor os factos antes de mais nada. Quando perdem essa noção e se empenham em combates pessoais ou políticos, as derivas podem acontecer. Esses incidentes traduzem antes de mais o facto de os jornais estarem num período de grande incerteza e interrogação sobre o próprio futuro do jornalismo, e a resposta por vezes é dada sob a forma de uma corrida desenfreada ao espectacular, o que é uma maneira de se extraviarem. É um sintoma de um problema mais geral, da transição que estamos a viver. E não temos outra resposta que não seja o autocontrolo, as regras internas, a vigilância, a ética profissional.
E. – A Internet também ameaça os jornalistas de extinção?
JMC - Já estão ameaçados pelas perturbações actuais. O jornalismo já não tem o monopólio do jornalismo. E quem não perceber isso, morre, porque não saberá adaptar-se e não se transformará de forma a justificar de novo o seu trabalho.
As incertezas de Colombani
Chegou a altura em que as empresas de comunicação vão ter de responder à questão elementar, diz Colombani – Qual é o seu trabalho? Comprar papel ao mais baixo preço possível, pôr-lhe tinta e vender mais caro? (…) Ou fazer apenas informação, indiferente aos meios em que ela «viaja»?
Saber responder a essa pergunta vai ser crucial para o futuro das empresas de «media». Até agora, os órgãos de comunicação social viviam à custa do monopólio de informação pelos jornalistas. Mas eles perderam-no para os cidadãos, que com o desenvolvimento da Internet têm a impressão de ser melhor informados do que passando pelo canal do «media». Na net, dizia o director do «Le Monde», «as pessoas passeiam, escrevem, trocam dados e não precisam do jornalista, nem da televisão, nem da rádio, nem dos jornais».
Ora se os cidadãos se apoderam da informação, o que resta ao jornalista? Quando, ainda para mais, a opinião pública se comporta perante os jornais e jornalistas como estes face ao poder, isto é, desconfiando e criticando?
(…)
Para ele, que não tem receitas, é esta a palavra mágica, o ponto definitivamente assente e do qual depende a continuação dos jornais e do jornalismo: qualidade. E rigor e exigência. De modo a que se continue a valer a pena comprar um jornal. Seja sob que forma for que ele continue a existir, no papel, na net, ou tal como se anuncia já, como produto final de uma mera impressora caseira.
Cristalino! Mas, duvido que seja desta que os «iluminados da praça» concedam. Contudo, a partir de agora teremos a certeza de que só não o fazem por ignorância, mas por má-fé!Vão pensando nisso...até já!
JMC -Não é uma coisa do passado mas vai ter de aprender a viajar de diferentes maneiras. Aliás, já começa a aprender: tivemos o suporte de papel, amanhã o suporte – ecrã ou o suporte-papel, mas sob a forma de fotocópia em casa de cada um. Haverá várias maneiras de fazer viajar a informação.
(…)
E. - Como se concilia a necessidade de exigência com a precaridade crescente e a lógica do lucro das empresas, que conduz ao abaixamento da qualidade?
JMC - (…) O problema da precaridade é (…) um movimento geral da economia e não exclusivamente da imprensa, um fenómeno geral, mais vincado nuns sectores que noutros. Claro que não se fazem jornais de qualidade dessa maneira. Esses fazem-se com jornalistas que conhecem as suas áreas, com um certo grau de tempo de experiência, que progridem, porque adquirem um conhecimento e um talento que se vai forjando com o tempo.
(…)
E.- Há défice de crítica nos jornais?
JMC - Há um défice de autocrítica, de autocontrolo e de humildade, sobretudo. As derrapagens acontecem quando os jornalistas deixam de ser modestos face aos factos. Ora, os jornalistas existem para expor os factos antes de mais nada. Quando perdem essa noção e se empenham em combates pessoais ou políticos, as derivas podem acontecer. Esses incidentes traduzem antes de mais o facto de os jornais estarem num período de grande incerteza e interrogação sobre o próprio futuro do jornalismo, e a resposta por vezes é dada sob a forma de uma corrida desenfreada ao espectacular, o que é uma maneira de se extraviarem. É um sintoma de um problema mais geral, da transição que estamos a viver. E não temos outra resposta que não seja o autocontrolo, as regras internas, a vigilância, a ética profissional.
E. – A Internet também ameaça os jornalistas de extinção?
JMC - Já estão ameaçados pelas perturbações actuais. O jornalismo já não tem o monopólio do jornalismo. E quem não perceber isso, morre, porque não saberá adaptar-se e não se transformará de forma a justificar de novo o seu trabalho.
As incertezas de Colombani
Chegou a altura em que as empresas de comunicação vão ter de responder à questão elementar, diz Colombani – Qual é o seu trabalho? Comprar papel ao mais baixo preço possível, pôr-lhe tinta e vender mais caro? (…) Ou fazer apenas informação, indiferente aos meios em que ela «viaja»?
Saber responder a essa pergunta vai ser crucial para o futuro das empresas de «media». Até agora, os órgãos de comunicação social viviam à custa do monopólio de informação pelos jornalistas. Mas eles perderam-no para os cidadãos, que com o desenvolvimento da Internet têm a impressão de ser melhor informados do que passando pelo canal do «media». Na net, dizia o director do «Le Monde», «as pessoas passeiam, escrevem, trocam dados e não precisam do jornalista, nem da televisão, nem da rádio, nem dos jornais».
Ora se os cidadãos se apoderam da informação, o que resta ao jornalista? Quando, ainda para mais, a opinião pública se comporta perante os jornais e jornalistas como estes face ao poder, isto é, desconfiando e criticando?
(…)
Para ele, que não tem receitas, é esta a palavra mágica, o ponto definitivamente assente e do qual depende a continuação dos jornais e do jornalismo: qualidade. E rigor e exigência. De modo a que se continue a valer a pena comprar um jornal. Seja sob que forma for que ele continue a existir, no papel, na net, ou tal como se anuncia já, como produto final de uma mera impressora caseira.
Cristalino! Mas, duvido que seja desta que os «iluminados da praça» concedam. Contudo, a partir de agora teremos a certeza de que só não o fazem por ignorância, mas por má-fé!Vão pensando nisso...até já!
6 comentários:
Má-fé? Parece-me um tudo ou nada exagerado. Ignorantes não são, realmente. Quase todos os dias dou uma volta na net pelos jornais mundias através do Indekx mas nada disso tira o prazer de pegar todos os dias no AO logo pela manhã e no PÚBLICO ao almoço (excepto às quintas que chega tarde). Conservadora? São gostos, e estes não se discutem. É como as enciclopédias ou os dicionários, não é a mesma coisa....Cota? Pois que seja!
Mas tínhamos dúvidas?
Oh, meu caro, terão de vir 500 Colombanis até que um jornalista assuma o que aqui ficou dito. Mas é sempre bom sinal que alguém ainda vá dizendo.
Caro André, não vejo qual a dificuldade que um jornalista possa ter para assumir o que foi dito. Tudo isto é mais que evidente, embora nos Açores ainda estejamos, infelizmente, muito longe da realidade descrita.
O problema, caro Rui, são muitos anos de hábitos adquiridos e um reizinho na barriga de alguns.
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