" (...) Há 26 anos que sou professor na faculdade. Tenho hoje cinco vezes mais alunos do que há 20 anos, e isto apesar de uma selecção financeira terrível: a quase totalidade das crianças pobres ficam para trás, ainda antes de conseguirem entrar no secundário. Aumentámos a estatística em relação ao número de licenciados, mas a formação de elites acabou para sempre (…) Desde há muitos anos que ensino estudantes que sabem perfeitamente que estão a mais, que a sua profissão não vale nada, que estudar não serve para nada e que o mundo não precisa deles. Na sua maioria são jovens inteligentes e simpáticos (a proporção de dotados e não dotados é igual em todas as gerações). Mas não têm qualquer futuro à sua frente (…) Vão acabar por odiar o sistema. Pode ser que, em princípio, este caos a que chamam democracia parlamentar seja o melhor dos mundos. Eles, porém, não têm aqui lugar: historicamente é assim. Resultado: vão tornar-se radicais (…) A situação é paradoxal: a Europa, absolutista de modo esclarecido, cartesiano e organizado a partir de cima, deu à luz algo contrário ao internacionalismo que professa e que mina a unidade sonhada para o continente. Vistos de longe e de baixo, esses senhores bem pagos de Bruxelas, parecem outros tantos sósias em miniatura de D. José II (…) despreocupados, empurram uma massa de problemas por resolver como se tivessem décadas ou séculos á sua frente. O único problema é que a cada um de nós só foi dada uma vida e que gostaríamos de viver durante o tempo que nos cabe. Se isso for impossível, ficamos cegos pelo ódio e nem sequer posso dizer que não temos razão. Pregamos a tolerância, a cultura, a civilização e a estética, todas as belezas que o Homem alguma vez criou, a uma multidão de crianças dotadas e simpáticas e, contrariamnete a essses senhores de Bruxelas, não ficaremos admirados ao ver os nossos estudantes tornarem-se adeptos de ideologias odiosas. A literatura russa do século XIX descreveu muito bem o que é o homem supérfluo (…)"
Jovens supérfluos são radicais, artigo Gyorgy Spiró publicado no Courrier Internacional de 20 de Janeiro p.p.
4 comentários:
É, sem dúvida nenhuma, um excelente ponto de vista.
Sim, posso concordar com a consequência, mas nao creio que a culpa/causa de todos os males seja sempre do sistema (em abstracto). Seria, e é, um excelente bode expiatório se não fossemos nós, em concreto, o sistema.
A Universidade é a altura mais perigosa da nossa vida. Foi lá que muitos estudámos e percebemos as ideologias, foi por essa altura que entrámos para partidos, foi lá que aderimos a ideias fervorosamente (como se fossem novidades), que nos «convencemos» estupidamente de muita coisa. Foi lá que hormonalmente muitos de nós sentimos que éramos diferentes, brilhantes, espertos, inteligentes, que a mudança era nossa, blá blá, enfim, humildades peneirentas destas que a vida contraria mais tarde. Faz parte, digo eu.
O problema não é o homem supérfluo ou o fervoroso, é o ignorante, é aquele que se auto-convence que sabe. Esses sim, tornam-se adeptos de "ideologias odiosas".
Abraço Guilherme.
Rosa parece-me que o problema está mais na gestão das expectativas e das frustrações que a modernidade nos trouxe.
"O único problema é que a cada um de nós só foi dada uma vida e que gostaríamos de viver durante o tempo que nos cabe."
É a consequência de aderirmos sempre à novidade mesmo que esta não preste para nada.
A modernidade trouxe novas formas de interpretação do mundo, o que é muito bom quando se entende que tb podem ser falíveis e se aprende com isso.
Mas somos mais casmurros que burros. Pois agora o trabalho de reinterpretação/adaptação/gestão de expectativas/whatever é pior. Comecemo-lo.
Kisses.
Rosa
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