Primeiro Corso
(…) Tudo, para o ilhéu, se resume em longitude e apartamento. A solidão é o âmago do que está separado e distante (…) Oh, solidão das ilhas!...Conquista da terra por firmeza no pouco que se tem e por tino e recuo a tempo no muito que se deseja…Portos fechados, ilhas à vista…Entre nós e o mundo aquela porção de sal que torna incorrupto o aro da terra…Movimento e força; outras vezes tranquilidade e pasmo…Extensão…Extensão…(E, por mais que embirremos com reticências, que são espasmos tipográficos, a coisa é assim mesmo…Tem de exprimir-se nesta dose exacta de exaltação e de pouca sintaxe…) Ilhas pontiagudas naquela brutalidade oceânica que é afinal a única coisa delicada e discreta da nossa vida – o mar do nosso segredo…a volubilidade do nosso ardor que nada estanca…esta inconsciência de projectos humanos (mas desumano é o lógico, o ético, o inflexível!) . Além disso, o vapor da carreira…o boletim meteorológico (grau de humidade à saturação cem…), e o acostamento de Santos com a bandeira de saída…Oiço os rebocadores.
Vitorino Nemésio, Corsário das Ilhas. In Açorianidade e Autonomia – Páginas Escolhidas. Ed. Signo 1989.
1 comentário:
Nessa ideia, o nosso amigo VN sempre insistiu... Vide "O poeta e o Isolamento, Roberto de Mesquita", um seu ensaio, muito conhecido:
"Tomo aqui a palavra "isolamento" no seu sentido etimológico":solidão de ilha. Um homem numa rocha e em volta o mar." [...]O insulamento do seu ser vago e perdido numa terra que é metade água e pressão atmosférica noutra metade vulcânica em que o homem vegeta."
Mas já explorei esta ideia noutro blog, há algum tempo atrás, quando esta polémica ainda não estava acesa... e houve certa má-disposição "porque nós, açorianos, não estamos isolados!".
Eu também sou açoriana e gostava de dizer que venho aqui para partilhar ideias, não para impô-las a ninguém, muito menos para enraivecer o/a parceiro /a , ou dar uma de sabichona.
Já diz o blog do Guerreiro: "Sábio é aquele que aprende com todos."
;)
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