segunda-feira, maio 21

CHÁ DAS CINCO #194

A conquista da (in)felicidade
Normalmente, a palavra Felicidade faz-me trautear a música, com o mesmo título, de Vinicius e Jobim, cujo refrão é o incontornável “Tristeza não tem fim, felicidade sim…”. A verdade é que justifico-me melhor com o conceito de Bem-estar do que com o de Felicidade, ainda que haja quem defenda que são a mesma coisa…
Vem isto a propósito do tema de capa que a revista Única, do Expresso, escolheu para este fim-de-semana: “A escolha da felicidade” e com a entrevista a Jonathan Haidt, especialista na matéria, autor do “The Happiness Hypothesis”. Segundo o Professor de Psicologia da Universidade de Virgínia a Felicidade pode ser determinada pela fórmula F (felicidade)= g(genética)+a(ambiente social)+v(actividades voluntárias), sendo que a investigação indica que a felicidade é menos sensível aos factores ambientais do que aos biológicos. Interessante, sem dúvida. Contudo, existem acções específicas para melhorar a nossa condição mental: os antidepressivos, a meditação, parece que o homem mais feliz do mundo é o monge budista Mathieu Ricard autor de “Happiness”, e a terapia cognitiva. Há alguns anos, ao ler, pela primeira vez, “A conquista da Felicidade” de Bertrand Russel, sublinhei as seguintes passagens no capítulo “O Homem Feliz”: “Há coisas indispensáveis à felicidade da maioria dos homens, mas são coisas simples: a alimentação, a casa, a saúde, o amor, o êxito no trabalho, o respeito das pessoas que nos rodeiam. Para alguns, ter filhos é também essencial. Quando tais coisas faltam, somente o homem excepcional é capaz de alcançar a felicidade (…) quando as circunstâncias exteriores não forem manifestamente desfavoráveis, o homem deve ser capaz de alcançar a felicidade, se as suas paixões e interesses forem dirigidos para o mundo exterior, em vez de se concentrarem em si próprio”, finalmente, “Toda a infelicidade resulta de uma desintegração ou falta de integração; há desintegração no Eu por falta de coordenação entre o consciente e o inconsciente; há falta de integração entre o Eu e a sociedade quando os dois não estão unidos pela força dos interesses e afeições objectivos. O homem feliz é aquele que não sofre de nenhuma destas faltas de unidade, cuja personalidade não está dividida contra si próprio nem em conflito com o mundo. Um tal homem sente-se cidadão do universo, goza livremente o espectáculo que lhe oferece e as alegrias que lhe permite, sem se perturbar com o pensamento da morte…”.
Quando, no ano passado, foi divulgado o estudo da Universidade de Leicester, com o mapa mundi dos níveis de felicidade, Portugal estava no 92.º lugar e a Dinamarca em primeiro. Para a New Economics Foundation, no seu Happy Planet Index, Portugal aparece no 136.º lugar. Na altura ninguém se admirou como não é de admirar que, mais recentemente, um estudo da Universidade de Cambridge, sobre a UE dos 15, Portugal surja em 14.º lugar. Para não variar são os dinamarqueses que lideram a tabela, e que, também para não variar, elegem um dos factores-chave para a sua felicidade o tempo livre e a forma como o usam para passar em família e com os amigos. É assim que talvez devesse assumir maior preocupação a notícia do Público, de ontem, que anuncia que os portugueses têm cada vez menos filhos e, entre a maioria daqueles que os têm, não faz parte das prioridades poder ter mais tempo para lhes dedicar. Mais individualistas, mais autocentrados: é uma tendência que já não é nova, mas que se tem vindo a consolidar. 83,7 por cento da população portuguesa empregada, com pelo menos um filho ou dependente a quem prestem cuidados, diz que não deseja alterar a sua vida profissional para poder dedicar mais tempo a cuidar deles. Nos estudos realizados por organismos da União Europeia ressalta o contrário, com a maioria dos europeus a manifestar-se insatisfeito no que respeita à conciliação entre trabalho e família. Esta insatisfação foi mesmo apresentada como uma espécie de "moeda comum" europeia. Por cá parece que ninguém se incomoda, vamos continuar a divergir e eu vou continuar a trautear, a que ameaça ser a mais portuguesa das canções brasileiras: “Tristeza não tem fim, felicidade sim…”

6 comentários:

Paula disse...

P'la tua rica saúde!!!!!! Smiiiile!! É muito mais fácil e exercita os músculos, evitando possíveis rugas ;)
Muitos beijinhos sempre carregados de optimismo :)))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))

gm disse...

Aaaaaaaaah mas nem todos têm sorrisos de fazer parar o trânsito ;) eheheh

Anónimo disse...

tens o contacto da Lucia Caxeiro fomos colegas de turma...
nelson.monforte@gmail.com

Anónimo disse...

Pois a mim fez-me "ouvir" o Nat King Cole cantando o Smile. Ah! pois é...

Anónimo disse...

Faz-me lembrar outra canção brasileira, "rio, rio, rio, rio pra não chorar..."
Acho que a felicidade existe dentro de nós, quando não nos preocupamos se somos ou não felizes, porque se pensarmos muito nela, acontece tal como nós "seres imperfeitos" não a encontramos.
gmariaf@gmail.com

Anónimo disse...

"A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor."

Todas as fases do crescimento de uma flor são bonitas e assim é a vida…

:) Beijinhos
RA