Roma, 25 de Março de 1957 - Sob “A batalha dos Horatii e Curatti” fresco de d’Arpino que decora o salão principal do Palazzo dei Conservatori, em Roma, seis nações europeias assinam o Tratado de Roma. França, República Federal da Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo estabeleciam a Comunidade Económica Europeia no que é, para muitos, o começo dos “Estados Unidos da Europa”. Jean Monnet, consensualmente, um dos «pais-fundadores» da Comunidade Europeia, deixa-nos, nas suas “Memórias” (*), uma marca impressiva do que então se jogava e que, mau-grado o impasse reinante, hoje, em tempo de celebração, merece um sublinhado de esperança:
“(…) havia um prazo ameaçador que se apresentava diante de nós, a data de 6 de Julho, que era a do encerramento do Bundestag antes das eleições gerais de Setembro, na Alemanha. Cada dia perdido vinha aumentar a tentação dos socialistas do SPD de endurecerem a sua oposição e, pelo menos de se absterem (…) Em Bruxelas, os peritos avançavam na redacção de textos minuciosos, cheios, ao mesmo tempo, de precauções e de audácias que viriam a revelar-se, tanto umas como outras, muito eficazes, tal como pretendiam os seus autores, consoante a utilização que as pessoas delas fizessem. Nunca me perguntei se os tratados do Mercado Comum e da EURATOM poderiam ter sido diferentes e melhores. Penso que correspondiam a tudo o quanto era possível no momento e, sem dúvida, à sabedoria da época para a qual foram concebidos – eu, pelo menos, não podia senão ter toda a confiança nos europeus mais capazes e mais convictos da sua geração. A obra que estes imaginaram terá decepcionado a exigência dos federalistas, mas os seus equilíbrios resistiram a todas as provas. A sua chave é o diálogo constante que organiza entre as instituições nacionais e as instituições comuns, cujos objectivos estão ligados e que já só solidariamente é que podem avançar pelas vastas perspectivas que se oferecem à Europa.
Esse diálogo inseparável da decisão é a própria essência da vida comunitária e é responsável pela originalidade deste entre os sistemas políticos modernos (…)”
(*) Ed. Ulisseia, 2004.
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