Cherchez la femme (2) ou, pelo menos nas coisas do género, o sexo importa.
Esta não é matéria nova no Chá Verde nem pretendo dela arrepiar caminho ou colocar ponto final. Aliás cada vez mais se aborda a importância e o papel político, social e económico das mulheres na sociedade contemporânea. No entanto os ânimos exaltam-se quando se fala em introduzir instrumentos políticos que assegurem essa relevância. Os últimos 6 anos da minha vida profissional obrigaram-me a acompanhar as actividades da assembleia legislativa em permanência. Tenho pois o privilégio (ou azar para outros) de assistir, de forma mais ou menos desprendida, à maioria dos trabalhos, debates e intervenções parlamentares. Posso, assim, dizer, com algum grau de certeza, que a qualidade perpassa na maioria das intervenções parlamentares femininas (seja pela actualidade e importância dos temas, pelo cuidado e sensibilidade do trabalho, pela novas perspectivas de debate que abrem) e essa qualidade é proporcionalmente inversa à da das respostas ou questões que os seus colegas homens são capazes de trazer ou iniciar (a maioria por desconhecimento ou deficiente «formatação»).
Quero aqui esclarecer que falo de mulheres políticas que querem ser mulheres na política e não mulheres que querem ser como os homens da política – a diferença é como do dia para a noite mas isto agora não é para aqui chamado (mas aqui já foi aflorado). O que me interessa dizer é que não tem sido lembrado que a questão das quotas é instrumental naquelas que são as políticas mundiais do género. Por exemplo o «Roteiro para a igualdade entre homens e mulheres 2006-2010» define seis áreas de intervenção prioritárias da UE em matéria de igualdade entre homens e mulheres para o período 2006-2010: independência económica; conciliação da vida profissional e familiar; representação equitativa na tomada de decisões; erradicação de todas as formas de violência em razão do sexo; eliminação dos estereótipos de género; e promoção da igualdade entre homens e mulheres nas políticas externa e de desenvolvimento.
Está claro que o papel da mulher a nível mundial obriga a uma intervenção pública política, social e economicamente integrada. A meu favor tenho, outra vez, a The Economist: “… Governments, too, should embrace the potential of women. Women complain (rightly) of centuries of exploitation. Yet, to an economist, women are not exploited enough: they are the world's most under-utilised resource; getting more of them into work is part of the solution to many economic woes, including shrinking populations and poverty…” ou então “…It seems that if higher female labour participation is supported by the right policies, it need not reduce fertility. To make full use of their national pools of female talent, governments need to remove obstacles that make it hard for women to combine work with having children. This may mean offering parental leave and child care, allowing more flexible working hours, and reforming tax and social-security systems that create disincentives for women to work…”
Os Açores cresceram nos últimos 10 anos ao nível da sua população activa feminina mas também ao nível da sua instrução. Quer isto significar que o potencial humano de conhecimento e de trabalho qualificado das mulheres na Região continua a ter margem de progressão e deve ser uma aposta segura. Aliás será tanto mais segura a sua aposta quanto só assim estarão conseguidos os requisitos indispensáveis para que as economias e demografias mais debilitadas das nossas ilhas da coesão tenham futuro. Apostar no feminino é apostar certo. As políticas, até agora, exclusivamente, assistencialistas de protecção do género não têm outro caminho que serem substituídas por políticas integradas de potenciação do género.
Podíamos agora teorizar com Simone de Beauvoir que «nenhum fatalismo biológico, psicológico ou económico determina a figura que o ser feminino possui na sociedade; é a civilização no seu conjunto que determina essa criatura» mas isso pode ficar para estas senhoras, neste momento interessa-me mais que nesta matéria, como em tudo o mais, possamos e devamos ir mais longe: seja, incentivando a maternidade, facilitando a empregabilidade mas sobretudo a formação e o empreendedorismo; seja, avançando com a paridade nas listas para a assembleia legislativa (50% homens/mulheres).
Entretanto, como o mundo é «giro» e gira, depois de Bachelet, Alonen e Timochenko é capaz de sair uma Ségolène Royal na roleta gauloise. Ce sont les temps qui changent…
8 comentários:
Cá em casa elas estão em maioria. São 4 contra 1, até os gatos são gatas e eu sinto-me bem assim.
"Acredito que as pessoas valem pelo seu mérito próprio e que quem tem valor acaba fatalmente por se impor, e por isso sou contra as quotas.
Se a uma senhora que anteontem se indignava no «Público» porque detectou um sorriso condescendente do dr. Souto Moura perante a intervenção de uma deputada, na inquirição sobre escutas na Assembleia da República, eu disser
que também escutei a intervenção da deputada com um sorriso condescendente,não por ela ser mulher mas por ser notoriamente incompetente para a função,
ela responder-me-ia de certeza que eu sou «machista» e jamais aceitaria que lhe invertesse a tese: que o problema não é aquela deputada ser mulher, o problema é aquela mulher ser deputada."
Miguel Sousa Tavares no Expresso de 4 de Fevereiro de 2006.
O mesmo é válido para o outro sexo. Não é uma questão de se exaltarem os ânimos, ainda que se considere a questão das quotas uma medida instrumental, é uma visão de conjunto muito redutora.
Que bom saber que HÁ homens que se preocupam, de forma séria, com essa temática e que falam dela como HOMENS..., ou seja, sem deficiente "formatação"
Gostei!!
Beijo repenicado!
Quando os homens falam desta temática como homens, a temática torna-se muito mais interessante; deixando de se reger por figuras autênticamente patéticas na defesa de igualdades que às vezes nem sabem bem o que é. Gostei muito. Assim até dá gosto falar nestas coisas.
"As políticas, até agora, exclusivamente, assistencialistas de protecção do género não têm outro caminho que serem substituídas por políticas integradas de potenciação do género." É d´homem!!!
penso que já é tempo de darmos o poder às mulheres, veja-se naquilo em que transformá-mos o nosso planeta. a mulher, mais esperta e atenta, sabe apreciar o que este mundo tem de bom.
conseguiste fazer-me sorrir com este teu "artigo". Tu sabes o porquê. R.
Best regards from NY!
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