sexta-feira, outubro 7

CHÁ QUENTE #110

"As autarquias locais deveriam fazer jus ao nome de escolas da democracia que receberam, nomeadamente pela voz de Alexis de Tocqueville largamente difundida pelos mais significativos autores portugueses. Deveríamos ter exemplos de democracia que se revelaria no exercício de referendos, no poder efectivo das assembleias e ainda em algo que as pessoas julgam que existe a nível local, mas que não existe efectivamente: a relação directa entre os eleitos e os eleitores. Quem, vivendo numa freguesia, alguma vez teve uma reunião com membros da respectiva assembleia para trocar impressões sobre os assuntos da comunidade local? Quem, vivendo num município, já viu os membros da assembleia municipal convocar reuniões para prestar contas? As excepções que, porventura, haja apenas confirmam a regra.
Não será fácil mudar estas coisas, se é que se quer mudar, se é que se quer um autêntico poder local democrático ou, como prefiro chamar-lhe, uma democracia local. É toda uma pedagogia democrática que está por fazer. Se houver a preocupação de mudar as coisas, há um ponto por onde começar: modificar a organização e funcionamento das assembleias locais. Não é tudo, mas é muito importante. Alguém estará interessado nisso?
"

In Democracia local e a obsessão presidencial, António Cândido de Oliveira (Público, 5 de Outubro de 2005)

(...a reflectir antes mas, sobretudo, depois de dia 9)

1 comentário:

RD disse...

Assim é.
Só há esse contacto mais estreito em tempo de eleições - logo, com muito mais simpatia - o que cheira sempre a esturro. Não relembrando que aparece sempre um chico-esperto a pedir um saco de cimento para a casa nova.
Muita pedagogia democrática há a fazer... e a cultivar (prefiro a última).
Temos que considerar o distanciamento e o desinteresse das pessoas, não se deve insistir no processo só por um lado. Acho até, que alguma coisa já se faz, mas não de fundo, continua-se a varrer para debaixo do tapete enquanto o problema não é tapar o lixo, mas sim não criá-lo.
Há que mudar o paradigma da ideia de «cidadão», este terá que se consciencializar da sua responsabilidade como parte da sociedade, e aí sim, modificar a organização e funcionamento das assembleias locais.
Trabalhinho em conjunto e entre adultos.