Mademoiselle Rose, Eugéne Delacroix
O tocador de seios
Homem delicado, compreensivo, agradecido e alegre com tudo o que tivesse alguma alegria verdadeira, chamavam-no as mulheres para as tocar, cuidar delas, consolá-las e descobrir com as suas palavras, com os seus olhares, com as suas mãos, a pureza dos seios, que outros tratavam sem o devido apreço.
Elas sentiam mais os seus seios e encontravam nele a gratidão que nunca demonstraram os outros, ao arremeterem que nem ratos.
A cena era bela. O tocador de seios saudava os seios da que se lhe confiava com todas as saudações, discretas, simples, inefáveis; não com o exagero desses rapazes impacientes e que acabarão por ser ingratos, cínicos, malévolos, dolorosos, embora tendo ao princípio os espaventos da revelação.
O tocador de seios era incansável, porque acreditava que se podia morrer tocando uns seios entregues sinceramente às mãos sinceras que não os roubam, mas que lhes devolvem o rédito que merecem.
O tocador de seios não era brusco, precipitado, nem se via nas suas mãos esse cansaço que vai fazê-las parar muito em breve. Ele reflectia cuidadosamente acerca dos seios, achava que o seu relevo não é comparável a nada e neles descobria os perfis mais belos. Chegava a admirar os seus próprios seios a dona, perante os requintados tangidos que lhes dava o tocador.
Também não eram timoratas as que se prestavam a que o tocador entrasse nos seus aposentos. Eram as mulheres que estão fartas da brutalidade e querem que as aprecie em segredo um dos poucos homens que sabem apreciar e que têm um longo êxtase em vez do arrebatamento às três pancadas.
O tocador de seios deixava-as então com os seios celebrados, abençoados, preparados para aguentar com os reservatórios de doçura e de veneração que neles deixara, todas as injustiças e os insultos dos mamíferos correntes.
Ramón Gómez de la Serna, Seios. Ed. Antígona, 2000.
(...com um agradecimento ao Nuno por me ter lembrado a minha estante)
3 comentários:
Não tens nada que agradecer.
... e alguém tem o contacto desse senhor? hehehehheh.
'brincando.
beijinho.
Espero que esse senhor não fosse poeta, senão tínhamos o caldo entornado... ;)
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