quarta-feira, novembro 23

PURO PRAZER #181


O Caminho para Vetheuil, Monet

O poema

O poema é um exercício de dissidência
, uma profissão de incredulidade na omnipotência do visível, do estável, do apreendido. O poema é uma forma de apostasia. Não há poema verdadeiro que não torne o sujeito um foragido. O poema obriga a pernoitar na solidão dos bosques, em campos nevados, por orlas intactas. Que outra verdade existe no mundo para lá daquela que não pertence a este mundo? O poema não busca o inexprimível: não há piedoso que, na agitação da sua piedade, não o procure. O poema devolve o inexprimível. O poema não alcança aquela pureza que fascina o mundo. O poema abraça precisamente aquela impureza que o mundo repudia.

A estrada branca, José Tolentino de Mendonça. Assírio & Alvim, 2005.

1 comentário:

Caiê disse...

Depois me dirá sobre a prosa poética... :)