terça-feira, março 20

CHÁ COM TORRADAS #161

Da divergência que era, não foi, mas continua a ser. Da renovação que não foi mas era para ter sido.
Falar do Congresso do CDS/PP (agora, e bem, CDS/PP-Açores) que decorreu este fim-de-semana, em Angra, não deixa de ser algo do campo do sensorial. Na verdade, dada a pouca cobertura informativa que o mesmo teve, algumas transmissões directas na RDP-A, poucas na RTP-A, restariam os jornais ou os blogues (este, este e este) para tentar completar as lacunas. Contudo, os jornais pouco adiantaram e os blogues não quiseram ser juízes em causa própria. É pena. Assim, como não domino as situações, resta-me falar das impressões. Ora, as minhas impressões resumem-se nas primeiras frases.
Até 15 dias antes das eleições fez-se passar a ideia de que, em grandes jogadas de bastidores, decorria uma luta de galos entre os delfins de Alvarino Pinheiro (AP), Artur Lima (AL) e Nuno Melo Alves (NMA). Só eles saberão a razão para o anúncio da candidatura de AL surgir tão tarde quando todos o esperavam já que era AL, desde o retiro de AP, a face visível do CDS/PP. Tão natural foi a candidatura de AL e a sua declaração de desejo de maior democraticidade interna (AL sabia que a única maneira de não estilhaçar o partido era propugnar a descentralização) como o aparecimento da moção de estratégia liderada por Pedro Medina (PM). A estrutura partidária de São Miguel teria de manter a coerência de antigas divergências alicerçada na reivindicação de maior equilíbrio das ilhas nos órgãos dirigentes (lembremos que AP fez pender, constantemente, a balança para a Terceira). A única forma de o fazer era mostrar a diferença. E de facto os discursos dos dois protagonistas foram divergentes nos conteúdos ainda que convergentes nos objectivos. À inconciliabilidade entre o populismo personalizado de oposição promovido por AL, com a "desmistificação da imagem de um partido de ricos", e o conservadorismo democrata-cristão com vocação de poder propugnado por PM, respondia uma estratégia comum. Ou seja, a projecção de força era só isso mesmo: PM nunca quis candidatar-se e AL nunca quis hostilizar o CDS/PP de São Miguel.
PM sabia que o congresso estava controlado por AL, levando em frente a candidatura perderia alguns lugares de relevo nos órgãos directivos do partido e não se diferenciaria do papel de Paulo Gusmão perante AP. AL não podia hostilizar mais PM porque queria passar a mensagem de que uniu o partido e, mais importante, porque caso as coisas lhes corram bem, esse círculo traz uma possibilidade de conquistar 2 deputados, ou mais, directamente ou através dos votos do círculo de compensação. Assim, tudo se teria de resolver onde sempre se pensou resolver, não nas urnas mas nos corredores. PM não apresentou a moção a votos, AL deu ar de magnânimo na cedência de lugares. Ambos saíram com ar de vitoriosos. Ambos saíram com ar de quem está num partido unido. Contudo, programaticamente, nenhuma das facções se encontrou, nem se vai encontrar.
Falemos então da «renovação». Primeiramente, é curioso verificar como, num partido tão pequeno, proliferam as estruturas dirigentes, vejamos: Comissão Directiva Regional, Comissão Politica Regional, Mesa do Congresso, Comissão de Jurisdição e Fiscalização, Conselho Regional e agora um órgão consultivo, o Conselho Económico e Social. Depois, na dança das cadeiras e dos pontos de controlo do poder constata-se que pouco mudou.
Comissão Politica Regional
Antes: AP, Presidente, NMA, Vice – Presidente, Renato Moura (RM), Vice – Presidente, PM, Vice-Presidente e AL, Vogal
Agora: sai AP, avança AL, NMA e PM mantêm as vice-presidências
Comissão Directiva Regional
Antes: AP, Presidente, NMA, Vice – Presidente, RM, Vice – Presidente, PM, Vice-Presidente, AL, Vogal
Agora: sai AP e avança RM, braço direito de AP durante 25 anos e agora braço direito e esquerdo de AL (RM será certamente o primeiro beneficiado pelo círculo de compensação).
Mesa do Congresso
Antes: Presidente João Manuel Barcelos e Vice-Presidente João Faria e Castro
Agora: Presidente João Faria e Castro
Comissão de Jurisdição e Fiscalização
Antes: Presidente Artur da Ponte
Agora: Presidente José Paím (anterior Vogal da Comissão Política de AP)
Conselho Regional
Antes: Presidente - Augusto Cymbron
Agora: Presidente - Nuno Barata Almeida e Sousa

Como se vê a única novidade ao nível dos cargos dirigentes é a entrada de Nuno Barata para o Conselho Regional no lugar de Augusto Cymbron. Mudanças? Onde?
Mas a cereja no cimo do bolo está guardada para o anunciado órgão consultivo – o Conselho Económico e Social. A «menina dos olhos» de AL vai ser liderada por AP, aquele que era suposto sair mas que foi ficando e que agora vai ser responsável por um órgão que nunca quis formar no seu consulado. Resta-me a pergunta: que possibilidades terá, assim, este CDS/PP-Açores em atrair contributos daqueles que antes não se identificavam com a postura política de AP?
Notas finais:
1- Este faz de conta regional acabou por merecer nota positiva tendo em conta o desvario nacional. Contudo os que antes suspiravam na Região por um balão de oxigénio trazido por Paulo Portas (a exemplo das eleições de 2000) são capazes de estar a fazer figas para que o que se passa em Lisboa não contamine a imagem de seriedade política que o novel líder diz querer que fazer passar

2- Lamentável que o site do partido não tenha disponibilizado quaisquer das moções concorrentes, resta-me aguardar pela boa vontade de alguém para as poder ter nos arquivos.

2 comentários:

Alexandre Pascoal disse...

Guilherme, andas a trabalhar para o "partido"!?

gm disse...

Claro Alexandre, não se nota?