segunda-feira, julho 4

CHÁ QUENTE #79 (2X Act.)*

...ou as duas faces da moeda:

“Parece ser a nova moda da política regional: atacar os jornalistas (…) Os deputados do PS não consideraram sequer a possibilidade dos relatos da actividade parlamentar serem o que são por causa da própria actividade parlamentar. Não, nos corredores preferem insinuar que os jornalistas são uns malandros. Vão para a Horta descansar, não prestam atenção e produzem relatos pouco edificantes do que se passa na sala do plenário. Os deputados do PS estão preocupados com a criação de «canais directos» mas ainda não repararam que os jornalistas são os menos culpados pelo que é debatido na sala das sessões. Os deputados socialistas ainda nem sequer repararam que a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores tornou-se um espécie de ressonância da actividade do governo regional. Que a maioria das intervenções provocam a sonolência generalizada tendo em conta as loas ao executivo açoriano e a falta completa de qualquer sentido que não seja o da pura propaganda (…)”
Nuno Mendes, Jornal dos Açores, 27 de Junho

“(…) O problema é que o jornalismo parlamentar açoriano nem sequer existe. A esmagadora maioria dos jornalistas que cobrem os trabalhos parlamentares limita-se a elaborar actas incompletas e mal construídas do que se passa na Horta, evidenciando uma falta de apreensão do fenómeno parlamentar que vai muito para além do que, por benevolência, poderia ser admissível. O jornalismo interpretativo nunca teve lugar pelos lados da Horta e a contextualização, nas suas múltiplas vertentes, nem chegou a fazer parte do dicionário dos jornalistas que habitualmente cobrem os trabalhos parlamentares (…) Só que o jornalismo parlamentar açoriano é apenas e só o reflexo do jornalismo que se faz nos Açores. Todos os adjectivos que utilizámos para qualificar o jornalismo que se faz na Horta poderiam ser aplicados ao jornalismo que se faz todos os dias nos Açores. Ou seja, a mediocridade está generalizada e não dá sinais de retroceder (…)”
Armando Mendes, Diário Insular, 3 de Julho

O Nuno Mendes, entretanto, aqui acresceu isto:
"...Há bons e maus jornalistas parlamentares. Há os que se borrifam para aquilo, os que se esforçam e tentam fazer um bom trabalho. Não há nenhum bom jornalista parlamentar? Pois não há. Também não há nenhum bom jornalista ambiental, nenhum bom jornalista científico (apesar da abundância de temas), nenhum bom jornalista musical..."

E o Rui Lucas num dos comentários aqui deixados:
"...para fazer uma análise séria tenho também que falar daquilo que a maioria não vê, que são as opções editoriais de cada órgão de comunicação social. A insensibilidade em relação à política por parte de quem fecha o jornal, por exemplo, leva a que temas importantes não mereçam o devido destaque..."

O Rui Messias , entretanto, juntou-se:

"...há duas linhas de argumentação a suster neste debate (que, em nosso ver, devia extravasar os limites da blogosfera, já que revela um “problema” do arquipélago): por um lado, (e este mais corporativo) os jornalistas açorianos deviam debater internamente esta questão, como outras que afectam a profissão (e ela é cada vez mais uma profissão nos Açores e não um complemento de outra actividade, como aconteceu no passado); por outro, o facto de uma força política (que tem maioria do parlamento) lançar esta discussão revela algo mais do que uma simples “intenção comunicacional”..."

Ora os contributos foram simpáticos mas nenhum dos jornalistas aqui citados se disponibilizou para explicar o porquê de todas essas conclusões. Não será esse exercício colectivo que falta ao jornalismo açoriano?
*(ESTE POST DESAPARECEU SUBITAMENTE DO CHÁ MAS VOLTEI A POSTÁ-LO ESPERANDO QUE TENHA SIDO POR PROBLEMAS TÉCNICOS DO BLOGGER E NÃO POR OUTRAS RAZÕES)

7 comentários:

RD disse...

No meu entender, o mal é geral. Não se pode necessariamente atribuir culpas sempre só a uma classe. Há mau profissionalismo em todo o santo lado, infelizmente.

... Tenho evidentemente que reconhecer que na Horta é assim mesmo, e até poderia sugerir algumas causas para isso, mas entrávamos em muitos podres utilitaristas.
Enquanto não aparecer um cérebro autónomo e brilhante por cá, que dê a volta à prática jornalística, os que existem, andarão sempre atrelados aos velhos cães manipuladores.
Já não há quem tenha t****** para se chatear porque terá sempre algo a perder, é o que é. E ponto final.

Anónimo disse...

O ideal seria fazer um «mix» destes dois textos, embora nem assim se conseguiria ser inteiramente justo na análise ao jornalismo parlamentar. Durante quatro anos acompanhei os trabalhos do parlamento e verifiquei muito do que é relatado nas crónicas em causa. Falta competência à maioria dos meus colegas – embora ainda se mantenham lá alguns bons jornalistas –, não por falta de experiência, mas sim por que se estão «borrifando» para aquilo. Quem não gosta de política não deve estar ali, porque presta um mau serviço. Regra geral é preciso gostar-se do jornalismo parlamentar para se fazer um bom trabalho. Mesmo que não se saiba tudo existe vontade de aprender, o que irá permitir ganhar a preparação que falta.
Claro que isto não explica tudo. Também existem aqueles jornalistas que, não sendo apaixonados pela política, conseguem fazer um trabalho aceitável, sem, no entanto, marcarem a diferença. Por último, temos aqueles que não possuem qualidade, seja para falar de política ou dar a notícia de um acidente. Esses são maus em qualquer área. Mas para fazer uma análise séria tenho também que falar daquilo que a maioria não vê, que são as opções editoriais de cada órgão de comunicação social. A insensibilidade em relação à política por parte de quem fecha o jornal, por exemplo, leva a que temas importantes não mereçam o devido destaque. Recordo-me que uma vez foi aprovado um diploma que estipulava que as autarquias que não tivessem o seu PDM devidamente aprovado seriam impedidas de se candidatarem a fundos comunitários a partir de 2005. A peça saiu, mas sem grande destaque. Duas semanas depois o jornal voltou falar do assunto, como se tivessem descoberto a pólvora.
Só que há mais. Cabe na cabeça de alguém que se reserve uma página inteira para a cobertura do parlamento, quando o que de relevante se passou não merece mais de meia página? Pois, não passa, mas acontece. Resultado: alguns desgraçados lá na Horta são obrigados a «encher chouriço», nem que para isso tenham que escrever sobre todos os votos de congratulação ou de pesar aprovados.
Ora esta história destes votos leva-me ao outro lado da questão. Recorro a um exemplo recente: os deputados aprovaram um voto de protesto pela descida do Lusitânia. Algo sem pés nem cabeça, quando o que deveriam fazer era, por exemplo, aprovar uma resolução que manifestasse a injustiça que é a II Divisão B para as equipas açorianas. Mas fazê-lo em tempo útil, porque o problema não é de agora. A isto somam-se as recorrentes discussões estéreis sobre os mesmos assuntos, as intervenções ocas de apoio ao governo e as demagógicas de crítica ao executivo. A propósito de discussões estéreis, lembro-me que uma vez alguns deputados gastaram mais de uma hora a falar da história naval açoriana. Deu tempo para começar no século XVI e chegar aos nossos dias!
É por estas e por outras que não entendo o que pretendem o grupo parlamentar do PS. A cobertura deixa muito a desejar, mas sempre é maior da que é feita em Lisboa. Na Assembleia da República, só a discussão do Orçamento de Estado e debate mensal com o primeiro-ministro merecem ampla cobertura. O resto, exceptuando o trabalho de dois ou três órgãos de referência, são os «fait divers» do costume, como aquela secretária de Estado que disse que o catolicismo era a religião oficial em Portugal. Na altura vi isto na televisão, mas não vi mais nada. Naquele dia a única referência à Assembleia da República resumiu-se a este disparate. Bem podem os deputados açorianos agradecer aos jornalistas por não amplificarem alguns dos seus «fait divers». Claro que quando se pratica o referido «jornalismo interpretativo» os políticos caiem-nos logo em cima! Afinal o que é querem?
Caro Guilherme, peço desculpa pelo «testamento», mas fiquei entusiasmado. Devem ser saudades do parlamento...

Caiê disse...

O jornalismo especializado nos Açores pura e simplesmente não existe... excepto na área desportiva. E mesmo aí temos a pobreza que se vê.

Caiê disse...

De resto, os problemas de competência e experiência verificam-se em todas as ilhas. E, já agora, em todos os orgãos de comunicação social. Ou nunca deram por faltas de competência na RTP (o maior orgão) em Ponta Delgada?

Estamos conversados.

Anónimo disse...

Ah sim, falei da Horta porque era mencionada no texto acima e porque é uma realidade que conheço bem de perto, mas também conheço a de Ponta Delgada e o que disse estende-se da mesma forma.
Li hoje no Público que é emergente uma entidade/organismo que sancione os jornalistas, já que código deontológico há, mas não é respeitado.
Ora bem que já se faz tarde.

Rui Messias disse...

Haja saúde!
Já agora - e porque o meu nome aparece associado a esta discussão - deixem-me meter-me ao barulho...
De facto, a pequena análise que o amigo Rui Lucas faz do trabalho jornalístico no parlamento está correctíssima...
Não só há maus jornalistas (como em tudo na vida), como há aqueles que se estão borrifando para o que se pass ano hemiciclo...
Mas é importante também não esquecer outra coisa: de há algum tempo para cá tem subido a qualidade no jornalismo insular, muito por culpa da chegada de novos quadros, gente com vontade de inovar e com genica para fazer disto uma profissão com futuro; além disso, a culpa neste caso não pode ser imputada em exclusivo aos jornalistas... é importante não esquecer que também os parlamentares em pouco contribuem para o aumento da qualidade e do impacto dos trabalhos ali existentes.
Não sou desse tempo, mas habituei-me a ouvir falar dos intensos debates parlamentares após a Autonomia, levados a cabo por homens e mulheres que, de facto, pensavam noq ue diziam, e faziam-no com propriedade. É importante, se calhar, a juntar ao debate dos jornalistas sobre o que andam a fazer na Hora, debater o que andam os deputados regionais a fazer por lá. Quando se passam três dias a discutir "o sexo dos anjos" (por muito interessante e politicamente correcto que issso possa parecer para os próprios), é impossível exigir um bom trabalho a quem cobre informativamente o acto.
No fundo, a discussão gera muitos pólos de argumentação. Se calhar é altura de debater tudo isto com seriedade. Fica o apelo e o agradecimento ao Guilherme por ter iniciado a discussão, pelo menos aqui!
Abraço

Anónimo disse...

Excellent, love it!
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