terça-feira, julho 12

CHÁ DAS CINCO #49


Ana Hatherley

A «normalização» a que vem sendo submetida a sociedade portuguesa não incide apenas – nem principalmente – no processo de regularização da vida política democrática, após os sobressaltos que se seguiram ao 25 de Abril. A normalização de que aqui se trata é um movimento muito mal geral e profundo. Caracteriza-se negativamente, pela supressão de possibilidades de vida (criação de novos possíveis de subjectivação), e positivamente, pela aceitação universal deste estado de coisas. Um traço essencial da normalização é a ausência de alternativas, a afirmação de uma unia norma em todos os domínios (desde a governação à vida privada). Ausência de alternativas que por sua vez são acompanhadas pelo desaparecimento da norma. A sociedade portuguesa está normalizada por uma regra invisível. Onde está ela? Ela, que prescreve uma só política? Uma só moral? Uma só maneira de agir, de sentir, reagir, pensar? Mas como definir a norma, se o pensamento e a acção, a política e a moralidade vigentes se vivem com a naturalidade e a crença das evidências indiscutíveis?

José Gil, Portugal, Hoje – O Medo de Existir. Ed. Relógio D’Água, 2005.

6 comentários:

RD disse...

Caramba, tinha escrito um comentário enorme e não ficou. Fico fula quando me acontece isto. :)
Bom, fica o olá e vou ver se volto com tempo. Beijos.

RD disse...

Voltemos à carga então:
Acho perigoso quando se fala numa só moral, acho perigoso quando se falam em várias morais. Acho perigoso tudo o que absolutize ou relativize. Ficamo-nos pela tolerância e sem rótulos pré-definidos.
Contudo, esta tolerância tem o seu espaço entre uma aceitação de várias morais individuais que pedem obrigatoriamente por uma consciência moral social - que - e chegando onde José Gil chega, é inexistente em Portugal. De acordo.
Note-se que a consciência moral, não aparece primeiro nem no individuo moral nem na sociedade (ou o social), com qualquer tipo de regras, pois esta tem que vir de dentro e não de fora, senão chamaríamos à consciência social de "Lei".
Há uma interacção dinâmica entre elas que nos fazem ser o que somos (acrescendo o espaço e tempo). Não se coloca a problemática do ovo ou da galinha.
Assim presumindo, e falando sobre a nossa realidade, o problema, a meu ver, estará precisamente na ausência de consciência social, logo a individual está ausente de qualquer culpa ou dever em comum. Deixou de acompanhar porque já não lhe respondia.
No tal comentário que não ficou, dava o exemplo de Londres, cidade onde se partilham vários credos em franca aceitação, e onde se partilha uma consciência social saudável.
Eu o que vejo, leio e ouço nos Açores é o contrário. Só comentários descriminativos, preconceitos disfarçados de pseudo-críticos de tasca, cabeçoilas de pionese que deveriam ter vergonha e não têm. Têm, pelo contrário, orgulho em si, ao que parece.
Entende Guilherme? A fasquia anda tão baixa que o rei anda nu.
Desta forma quem vem atrás toma o exemplo e a roda continua a girar.
Adieu.

RD disse...

Monsieur, quando não lhe parecer clara tenha a bondade de me pedir esclarecimento.
(hehe)

gm disse...

Rosa, esclareça-me «cabeçoila de pionese» ...ahah tou a brincar mas gostei da expressão.
De facto concordo consigo em quase tudo excepto nos alegados perigos da relativização, entendendo-a como questionamento, se é que me faço perceber. Talvez seja uma abortagem demasiado científica do mundo mas é a que pratico, um alvoroço constante ahah, mas que permite a descoberta continua, helas o prazer do conhecimento!
Se a fasquia anda baixa há que trabalhar para elevá-la e o que a Rosa escreve, e que tenho o prazer de ir acompanhando, é um GRANDE contributo.
A partilha do conhecimento é quase que um dever...
Ainda que aparente a companhia da altivez estou-lhe a falar num registo linear sem qualquer tipo de preconceito...
;) volte sempre

RD disse...

:) É bom acabar o dia com um feed-back desses. Agradecida pela atenção Guilherme.

Fez-se entender sim, de facto a relativização é sempre um encontro com os valores do Outro, mas apenas saudável quando se tem o Outro como um igual. Sendo assim, o máximo que pode acontecer de malzinho e sempre dentro dos trâmites do Respeito, é haver um "fosso cultural", algo natural que todos já sentimos pelo convívio com estrangeiros ou até de visitas a outro país. A mais ou menos breve e natural estranheza de costumes, nada mais.
O grande senão está quando não temos o Outro como igual e quando menos sabemos o que é o Respeito... aí sim, há uma relativização perigosa porque provoca o tal sentimento de superioridade numa das partes e a alteridade perde-se antes mesmo de haver contacto.
Entende-me? Por vezes basta o simples pré-conceito, outras uma desconfiança típica do neo-individualismo que teima em se querer proteger - no fundo, de nada, já que o Outro não rouba carácteres bem formados (será que atinge quem se sente ameaçado?).
As pessoas deixaram de Se dar. Como se diz por aí: "Não há almoços grátis", eu sei que a vida está dura, mas de vez em quando pagar um almoço a um amigo sabe muito bem, ou não sabe? ;)

Guilherme, só sente esse questionamento quem tem o bichinho do conhecimento, quem SABE que se quer aperfeiçoar, quem pretende Ser melhor todos os dias, e desta forma, coerentemente, é-o também para os outros. Este sim, deveria ser um dever por igual.
Digo-lhe o mesmo sem que lhe pareça uma simplória troca de galhardetes - Continue a sua caminhada.
Beijinho

Anónimo disse...

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