segunda-feira, junho 13

CHÁ QUENTE #74


Eija-Liisa Ahtila

Jovens, já alguém sentiu a loucura vestir de repente o nosso corpo? Já. E tomar a forma dos objectos? Sim. E acender relâmpagos no pensamento? Também. E às vezes parecer ser o fim? Exactamente. Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima? Tal e qual. E depois mostrar-nos o que há-de vir muito melhor do que está? E dar-nos a cheirar uma cor que nos faz seguir viagem sem paragem nem resignação? E sentirmo-nos empurrados pelos rins na aula de descer abismos e fazer dos abismos descidas de recreio e covas de encher novidade? E de uns fazer gigantes e de outros alienados? E fazer frente ao impossível atrevidamente e ganhar-lhe, e ganhar-lhe a ponto do impossível ficar possível? E quando tudo parece perfeito poder-se ir ainda mais além? E isto de desencantar vidas aos que julgam que a vida é só uma? E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo? Tu só, loucura, és capaz de transformar o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais. Só tu és capaz de fazer que tenham razão tantas razões que hão-de viver juntas. Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta. Só tu tens asas para dar a quem tas vier buscar.

...manifesto a uma Juventude que não se quer acomodada, ou corruptela do Reconhecimento à Loucura de Almada Negreiros.

2 comentários:

Clara Cymbron disse...

"Rotina peganhenta" nada mais verdadeiro nesta época de exames em que nos cortam o direito à vida, à loucura e até mesmo o direito a sermos jovens... Excelente post para fugir um pouco à minha "rotina peganhenta". Obrigada

P.S- passe lá pelo meu blog, lancei-lhe um desafio ;)

Caiê disse...

Hum, a sinestesia é extraordinária - transporta-nos logo! "Dar a cheirar uma cor" - é
fantástico!

Supremo esse texto - quem quer ser normalzinho? BLARGH! Mais vale ser deixar-se levar (deixar-se invadir?) ;)