quarta-feira, maio 11

CHÁ QUENTE #62

Contributo: Da Etnogenia

“(…) O que há na índole do povo dos Açores que possa licitamente atribuir-se à acção do meio, quais as transformações que este operou no moral dos portugueses que em meados do século XV se fixaram no arquipélago? (…) procurei fixar aquilo que se me afigurou mais característico no meio açoriano – o vulcanismo, a presença constante do mar, a insularidade ou isolamento do resto do mundo, a humidade do ar, a nebulosidade do céu, a temperatura oscilante entre estreitos limites, a pressão atmosférica, os vendavais e tempestades, a diferença entre ilhas e o continente pelo que respeita às condições geográficas e da paisagem, verificar ao mesmo tempo quais as qualidades morais comuns a todos os ilhéus, a sua religiosidade profunda, espírito de submissão, indolência, imaginação criadora, sentido da perfeição e do pormenor, espírito satírico, certo grau de saudosismo, talvez mais acentuado do que no continente, etc (…) ao caracterizar o modo de ser moral do povo açoriano, procurei juntar aquelas qualidades que em todos os autores que se ocuparam do assunto, mau grado as divergências que noutras manifestam, se acham indicadas. Só tive em conta aquelas que todos aceitam, quer no geral, quer a propósito de cada ilha. Mais particularmente atendi à classificação dos ilhéus em três tipos, proposta por Vitorino Nemésio numa conferência «O Açoriano e os Açores», (…) São estes tipos o micaelense, o mais trabalhador do arquipélago e também o mais diferenciado do continental, rude, industrioso, rijo e tenaz; o das «ilhas de baixo», afável, com certa manha, festeiro, indolente; e o picaroto, tomando a vida a sério, ora no mar, ora em terra, vigoroso, sadio, às vezes heróico (…)”

Luís da Silva Ribeiro, Obras. Ed. IHIT/SREC, Volume II, Pags 515 ss.

(…ora, este vosso criado, filho de micaelenses, neto de micaelenses, minhotos e faialenses, bisneto de micaelenses, minhotos, florentinos e picarotos, hoje apenas pode dizer que é Açoriano e mais tudo isto e o que quiserem que seja)

4 comentários:

Anónimo disse...

Eu não resisto... Até porque a tipologia não é minha. Posso pregar à vontade, com as citações alheias. LOL

"O homem da ilha do Pico tem outro feitio, outra ética. Afirmei [...] que ele era a nata das ilhas, e, em boa verdade, nenhum açoriano se lhe avantaja na concepção séria da vida, temperada embora por uma ingenuidade que é o segredo do seu triunfo nas lides a que se entrega. [...]
o que ele é por vocação tradicional é marinheiro [...] sempre pronto para saltar à canoa [...] Este é o seu destino no mundo, o seu começo e o seu fim."

E nesta tipologia - VN põe no mesmo saco o picaroto, o jorgense, o faialense, o corvino e o florentino (sobretudo pela ânsia de marinhar) - dir-se-ia estar toda aquela ideia de permanência e de fuga. Comum, afinal a todos os ilhéus...

;)

Mariana Matos disse...

E
Marinho...de mar. :)

Maria do Céu Rêgo-Costa disse...

Muito bem! E...ora, esta vossa criada, casada com Picaroto, filha de Micaelenses, neta de Micaelenses, bisneta de Micaelenses e Florentino, hoje e sempre dirá que é Açoriana e mais tudo isto e o que quiserem que seja.:)

Anónimo disse...

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